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Pelo respeito à memória de Humberto de Campos

(Autor: Professor Caviar)

Infelizmente, um grande escritor brasileiro tornou-se vítima de uma exploração indébita de seu nome e prestígio, uma apropriação criminosa que, infelizmente, acabou tendo o consentimento de seus familiares.

Humberto de Campos, escritor de vida muito breve, tendo vivido entre 1886 e 1934, falecendo, portanto, com apenas 48 anos de idade, foi um brilhante autor brasileiro, nascido em Miritiba (depois rebatizada com o nome do escritor) e morrido no Rio de Janeiro, onde residia por ser a capital do Brasil na época e por ele ter sido membro da Academia Brasileira de Letras.

Escreveu uma série de livros e tinha um estilo bastante peculiar. Era ao mesmo tempo culto e acessível, com linguagem muito bem escrita mas informal, e sua temática era laica e os textos, em maioria, descontraídos. Houve também obras satíricas, nos quais Humberto utilizou vários pseudônimos, nos quais o mais conhecido e frequente foi Conselheiro XX (Conselheiro Vinte).

Certa vez, como cronista do Diário Carioca, Humberto produziu uma resenha dividida em duas partes - por causa dos limites de espaço de sua coluna - sobre o livro Parnaso de Além-Túmulo, de um estranho paranormal chamado Francisco Cândido Xavier e já conhecido pelo apelido de Chico Xavier. Foi em 1932.

Humberto, com uma fina ironia, admitiu "semelhanças" entre as obras supostamente espirituais - atribuídas a nomes diversos como Casimiro de Abreu, Castro Alves, Augusto dos Anjos, Antero de Quental e Olavo Bilac, entre outros - , mas reprovou a concorrência dessas "obras espirituais" com a literatura dos vivos, que precisam ter seu ganha-pão.

Dois anos depois, Humberto de Campos, já muito doente, faleceu precocemente. Em 1935, ou seja, um ano após o falecimento do escritor, o esperto "médium" Chico Xavier teria inventado um sonho para arrumar desculpa para se apropriar do nome do escritor. Consta-se que Chico não teria gostado da crônica do Humberto e resolveu se vingar, como um "mineiro que come quieto".

O suposto sonho mostrava Chico encontrando uma multidão à sua frente, e, desta multidão, Humberto teria se destacado para saudar o jovem - Chico tinha 25 anos, na época - e lhe dito: "Você é o menino do Parnaso? Prazer, eu sou Humberto de Campos". A FEB aceitou a "história" e resolveu dar sinal verde para Chico Xavier publicar suas obras que creditam o nome do autor maranhense.

A obra foi um marco dos textos fake e das fake news que circulam na Internet. E foi o mais bem sucedido caso de apropriação indébita do nome de um morto, a ponto deste estar associado a um estilo literário bem diferente do que o marcou em vida, e do qual muitos acreditam ser "legítimo" até hoje, pelas mensagens supostamente edificantes que tais obras carregam, como se falsidade literária que apresentasse "grandes lições de vida" fossem, em si, "verdadeiras".

Até mesmo uma patriotada literária foi associada a Humberto de Campos: o risível livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, escrito a quatro mãos por Chico Xavier e seu tutor e presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, mas usando o nome do autor maranhense nos créditos oficiais. A obra nunca teria sido, de fato, escrita por Humberto de Campos e, ainda assim, o único texto "aproveitado" de Humberto foi um texto satírico, publicado num livro de humor, O Brasil Anedótico, usado num plágio.

A farsa chegou a render um processo judicial, julgado em 1944. O processo foi movido pelos herdeiros de Humberto de Campos, Dona Catarina Vergolino de Campos e seus filhos, mas terminou na tradicional seletividade da Justiça, que acabou julgando o processo "improcedente". Foi um empate jurídico que beneficiou Chico Xavier, que apenas "mudou o nome" do pseudo-Humberto para "Irmão X", para evitar "dissabores". Mas, dentro dos meios "espíritas", o nome de Humberto continuava a ser usurpado sem o menor escrúpulo.

Chico Xavier ainda armou uma emboscada religiosa, seduzindo o cético filho de Humberto, o produtor de TV Humberto de Campos Filho, através do convite de uma doutrinária na Casa da Prece, em Uberaba, em 1957, e da consequente exibição de práticas assistencialistas e de uma ostensiva "Caravana do Amor" que, supostamente voltada à "caridade", era na verdade uma campanha de promoção pessoal do "médium".

Infelizmente, o plano maquiavélico deu certo e, hoje, os livros originais de Humberto de Campos estão fora de catálogo. Em compensação, a obra fake dos livros "espirituais" continua em catálogo nas livrarias e, como se não bastasse, há versões gratuitas na Internet. 

Enquanto nem todos os livros originais de Humberto estão disponíveis, mesmo em sebos ou páginas de download gratuitos de livros, as pretensas obras "espirituais" estão livres, leves e soltas para o acesso das novas gerações, que nunca conheceram o Humberto original e tendem a levar gato por lebre.

Num esforço para dar um basta nisso, criamos este blog para reunir textos na Internet que denunciam a farsa e recuperar o respeito a um escritor hoje condenado ao esquecimento, só lembrado na forma fake de uma suposta psicografia que nem de longe lembra o estilo original do autor maranhense. Portanto, criamos este blog pelo respeito à memória do grande Humberto de Campos.

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